Nos bastidores políticos dos Estados Unidos, o teto da dívida tem sido motivo de debates acalorados e votações acirradas. Recentemente, o governo americano enfrentou uma corrida contra o relógio para evitar um possível calote, cuja data-limite estava estabelecida para o início de junho.
Com um limite da dívida de aproximadamente US$ 31 trilhões, alcançado já em janeiro deste ano, as tensões e incertezas em torno dessa questão se intensificaram. No entanto, a possibilidade de uma solução bipartidária para o impasse trouxe um suspiro de alívio aos mercados globais.
Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos, expressou seu contentamento com a resolução do impasse. Em seu depoimento ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes, Yellen destacou o risco da situação, enfatizando que tal cenário não pode ser considerado normal nas práticas de negócios em Washington.
Neste contexto, torna-se crucial compreender as implicações econômicas, políticas e sociais que um possível calote dos Estados Unidos poderia trazer. O desfecho ameaçador geraria consequências significativas não apenas para a maior economia do mundo, mas também para a estabilidade financeira global.
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Entenda o polêmico teto da dívida dos Estados Unidos
O teto da dívida, um dispositivo introduzido em 1917 durante a Primeira Guerra Mundial, tem sido objeto de debates e controvérsias no governo dos Estados Unidos. Em teoria, essa medida dá ao Congresso a capacidade de exercer certo controle sobre os gastos do Executivo, pois, quando o governo atinge o teto estabelecido, não é mais possível tomar empréstimos – a menos que o Congresso concorde em suspender ou alterar o limite estabelecido.
Atualmente, o teto da dívida norte-americana está em torno de US$ 31,4 trilhões. Ao longo dos anos, foram comuns os acordos entre o governo e o Congresso para aumentar, estender ou revisar o limite da dívida. Desde 1960, essa definição foi modificada em 78 ocasiões.
Para evitar atingir o teto em janeiro deste ano, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos utilizou manobras contábeis para manter suas reservas de caixa. No entanto, essas reservas se esgotariam em 1.º de junho – e, caso o Congresso não concordasse em aumentar o teto da dívida antes dessa data, os Estados Unidos não conseguiriam cumprir todas as suas obrigações financeiras, incluindo pagamentos de salários aos militares, títulos da dívida pública e benefícios da Previdência Social, o que levaria o país a um calote de proporções gigantescas.
Historicamente, o teto da dívida sempre foi utilizado como moeda de barganha política, mas as disputas em torno desse assunto têm se tornado cada vez mais polarizadas entre os principais partidos norte-americanos, o Democrata e o Republicano. Além disso, a dívida dos Estados Unidos quase dobrou em uma década, intensificando as tensões.
Em 3 de junho, o presidente Joe Biden sancionou uma lei que suspende o teto da dívida, evitando assim o primeiro calote da história dos EUA. O projeto de lei foi aprovado pelo Senado em 1.º de junho, após passar pela Câmara dos Deputados em semanas de negociações entre republicanos e democratas.
O acordo entre Biden e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, foi fundamental para a aprovação. Embora a votação tenha contado com amplo apoio dos democratas, conservadores de extrema direita expressaram insatisfação e paralisaram o plenário da Câmara dos EUA nos dias 6 e 7 de junho. Eles exigem cortes de gastos mais profundos e planejam continuar a lutar contra a legislação aprovada.
A lei em questão suspende o limite de endividamento do governo federal até 1.º de janeiro de 2025, com o objetivo de garantir a saúde financeira dos Estados Unidos nos próximos anos.
Dívida dos EUA: saiba os impactos de um possível calote
Um possível calote dos Estados Unidos teria repercussões devastadoras não apenas para a maior economia do mundo, mas também para a economia global como um todo.
Os EUA desempenham um papel crucial na economia mundial, e a falta de acordo entre o governo e o Congresso para aumentar o teto da dívida poderia antecipar uma recessão com consequências significativas.
Uma das principais implicações desse cenário seria a aversão ao risco, que afetaria fortemente os países emergentes, como o Brasil. A incerteza e a instabilidade nos mercados financeiros levariam a uma queda nas taxas de juros e no valor do dólar, prejudicando a economia global como um todo.
Além de retirar bilhões de dólares de circulação, impedindo pagamentos de benefícios do Seguro Social, por exemplo, também resultaria em uma queda no mercado de ações e redução da renda da população. A Europa, cuja economia está estreitamente ligada à dos Estados Unidos, também sofreria graves impactos. No entanto, a maior parte dos danos recairia sobre as economias emergentes.
Segundo Janet Yellen, um eventual calote poderia desencadear uma quebra dos mercados financeiros e causar pânico mundial. Para Yellen, haveria uma tempestade econômica e financeira sem precedentes, potencialmente levando os EUA a uma recessão.
Com a suspensão do limite de endividamento do governo federal, novas discussões surgiram. Para aqueles que têm ou desejam alocar recursos no exterior, espera-se um enxugamento de liquidez e um aumento nas taxas de juros de curto prazo, o que também terá impacto no mercado de ações.
Agora, o Tesouro americano terá de emitir uma série de títulos públicos para captar recursos e restabelecer seu caixa, que está significativamente abaixo da média histórica. Para atrair investidores, o Tesouro deverá ofertar títulos de curto prazo a taxas mais elevadas, o que reduzirá a liquidez de outros mercados, especialmente os de maior risco.
Além disso, é provável que ocorra uma queda nas taxas de juros de longo prazo, uma vez que a economia americana demonstra sinais de desaceleração. Essa combinação de eventos terá implicações para os mercados globais, exigindo um monitoramento cuidadoso dos investidores e analistas financeiros.
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